Inovar é preciso, vender não é preciso
Por Raul Gottlieb, em 28/01/2014
Lançado em 1961, o livro “Ardil 22” (Catch 22) de Joseph Heller é uma das grandes obras literárias do século passado, a tal ponto que o seu título passou a ser referência para situações sem saída, para as lógicas contraditórias.
A trama satírica se passa no exército americano durante a segunda guerra mundial e o título é referência a um suposto regulamento militar, que pode ser resumido assim: “o soldado que alega ter medo da batalha deve ser dispensado por motivo de insanidade mental, contudo ao alegar que tem medo da batalha o soldado estará provando que é mentalmente sadio e já não pode ser dispensado.”
Lembrei-me do Ardil 22 recentemente quando ofertamos um produto inovador a um dos órgãos do nosso governo.
O corpo técnico do órgão em questão fez um belo trabalho de especificação, levantando as necessidades com profundidade e especificando soluções criativas para o atendimento eficaz destas necessidades.
Em consequência, o edital lançado pelo órgão refletiu este levantamento, resultando num produto que não se encontra no mercado como pacote padrão.
Nem todas as empresas se dispõem a inovar em seus processos e produtos, mas este não é o caso da nossa empresa e assim sendo, nós respondemos ao edital oferecendo uma proposta que atendia rigorosamente o que foi solicitado, conforme ficou atestado na fase de avaliação técnica.
Contudo, nossa proposta foi desclassificada pelo irreparável pecado de ter sido a única proposta apresentada. Ou seja, o fato que nenhuma outra empresa do Brasil se sentiu capaz ou motivada a oferecer solução semelhante desqualificou a nossa proposta.
O edital foi cancelado, com prejuízo tanto para o setor público (isto é, nós todos), como para a nossa empresa (isto é, nós de novo) que se empenhou em desenvolver uma proposta inteligente.
O acontecido é um Ardil 22 em estado puro! Vejamos:
Com argumentos fortes e sensatos o governo do Brasil incentiva as empresas a investir em inovação. O oferecimento de produtos inovadores é a melhor forma de se diferenciar, dizem eles. Apesar dos riscos inerentes ao desbravamento de caminhos nunca dantes trilhados, somos convidados pelas agências de fomento (BNDES. FINEP e outras) a arriscar nossos recursos em novas ideias, em novos métodos, em novos produtos.
Contudo, no momento em que arriscamos inovar e desenvolvemos algo que mais ninguém pensou, ou que mais ninguém teve coragem de investir, somos proibidos de vender o produto ao mesmo governo que nos incentivou a inovar.
Somos proibidos de vender justamente porque o produto é inovador e, em consequência, nenhuma outra empresa o oferece. E isto acontece mesmo quando o governo especifica o produto inovador como sendo o ideal para as suas necessidades!
Não há saída alguma para esta contradição. O que nos remete a uma segunda referência literária, esta do poeta português Fernando Pessoa, que num dos versos do seu poema “Navegar é Preciso” (imortalizado para nós pela canção de Caetano Veloso) declama: “Viver não é necessário, o que é necessário é criar”.
Minha alma concorda com a segunda metade do verso de Fernando Pessoa, contudo uma empresa tem que viver e o BNDES exige que os recursos emprestados para a inovação sejam retribuídos em espécie e não com belos projetos.
Lançado em 1961, o livro “Ardil 22” (Catch 22) de Joseph Heller é uma das grandes obras literárias do século passado, a tal ponto que o seu título passou a ser referência para situações sem saída, para as lógicas contraditórias.
A trama satírica se passa no exército americano durante a segunda guerra mundial e o título é referência a um suposto regulamento militar, que pode ser resumido assim: “o soldado que alega ter medo da batalha deve ser dispensado por motivo de insanidade mental, contudo ao alegar que tem medo da batalha o soldado estará provando que é mentalmente sadio e já não pode ser dispensado.”
Lembrei-me do Ardil 22 recentemente quando ofertamos um produto inovador a um dos órgãos do nosso governo.
O corpo técnico do órgão em questão fez um belo trabalho de especificação, levantando as necessidades com profundidade e especificando soluções criativas para o atendimento eficaz destas necessidades.
Em consequência, o edital lançado pelo órgão refletiu este levantamento, resultando num produto que não se encontra no mercado como pacote padrão.
Nem todas as empresas se dispõem a inovar em seus processos e produtos, mas este não é o caso da nossa empresa e assim sendo, nós respondemos ao edital oferecendo uma proposta que atendia rigorosamente o que foi solicitado, conforme ficou atestado na fase de avaliação técnica.
Contudo, nossa proposta foi desclassificada pelo irreparável pecado de ter sido a única proposta apresentada. Ou seja, o fato que nenhuma outra empresa do Brasil se sentiu capaz ou motivada a oferecer solução semelhante desqualificou a nossa proposta.
O edital foi cancelado, com prejuízo tanto para o setor público (isto é, nós todos), como para a nossa empresa (isto é, nós de novo) que se empenhou em desenvolver uma proposta inteligente.
O acontecido é um Ardil 22 em estado puro! Vejamos:
Com argumentos fortes e sensatos o governo do Brasil incentiva as empresas a investir em inovação. O oferecimento de produtos inovadores é a melhor forma de se diferenciar, dizem eles. Apesar dos riscos inerentes ao desbravamento de caminhos nunca dantes trilhados, somos convidados pelas agências de fomento (BNDES. FINEP e outras) a arriscar nossos recursos em novas ideias, em novos métodos, em novos produtos.
Contudo, no momento em que arriscamos inovar e desenvolvemos algo que mais ninguém pensou, ou que mais ninguém teve coragem de investir, somos proibidos de vender o produto ao mesmo governo que nos incentivou a inovar.
Somos proibidos de vender justamente porque o produto é inovador e, em consequência, nenhuma outra empresa o oferece. E isto acontece mesmo quando o governo especifica o produto inovador como sendo o ideal para as suas necessidades!
Não há saída alguma para esta contradição. O que nos remete a uma segunda referência literária, esta do poeta português Fernando Pessoa, que num dos versos do seu poema “Navegar é Preciso” (imortalizado para nós pela canção de Caetano Veloso) declama: “Viver não é necessário, o que é necessário é criar”.
Minha alma concorda com a segunda metade do verso de Fernando Pessoa, contudo uma empresa tem que viver e o BNDES exige que os recursos emprestados para a inovação sejam retribuídos em espécie e não com belos projetos.
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